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Os anos 1980 vêm aí!

A armada de Trump e a deterioração dos balanços de pagamentos ao redor do mundo.
Os impactos das guerras comerciais que se instalaram podem ser inúmeros e potencialmente destruidores. Não que na era “pré-Trump” não haviam fortes disputas comerciais.  Haviam e não eram poucas. A título de exemplo, é importante ressaltar que foram abertos 41 processos de investigação de dumping (relacionados à indústria de alumínio e aço) junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) só no ano de 2015. Entre 2012 e 2013 foram 23 processos. O assunto em si, portanto, não é novo. Representando quase um quarto do PIB mundial, as trocas de mercadorias entre os países são constantemente alvo de disputas judiciais. Além , é claro, de discussões que fazem estremecer as relações diplomáticas dos países envolvidos. O fato é que, desta vez, levando em consideração a excentricidade de Donald Trump, a situação parece um pouco mais delicada. Nos últimos dois anos (2016 e 2017), os Estados Unidos realizaram um déficit comercial da ordem de US$ 1,56 trilhão de dólares. Nestes mesmos dois anos o déficit mensal médio foi de US$ 65 bilhões de dólares. Resultado que foi parcialmente suavizado pelos recorrentes superávits nos intercâmbios de serviços. Não é pouca coisa. Para dimensionar o que são US$ 1,56 trilhão de dólares, vamos converter isso ao Real (R$) usando a cotação comercial do último dia 23/03/2018: R$ 3,31. O resultado é de R$ 5,18 trilhões, quase tudo o que o Brasil leva um ano para produzir. E qual seria o impacto deste movimento sobre as economias menores, eufemisticamente chamadas, economias emergentes?

Economias Emergentes

Um dos impactos mais óbvios seria o esvaziamento das reservas internacionais. A diminuição de negócios internacionais poderia conduzir, por um lado, a uma perda de valor da moeda dos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, diminuiria a capacidade dos países dependentes dos negócios com os Estados Unidos de realizar algum superávit comercial. E isso seria muito prejudicial aos seus balanços de pagamentos. É difícil imaginar um problema advindo de reservas internacionais, nos moldes dos anos 1980. Até porque as dez maiores reservas internacionais, incluindo o Brasil, somam um valor equivalente ao PIB mundial. Mas essa mudança de postura do governo dos Estados Unidos não teria seus primeiros resultados nestas economias. Os países africanos, por exemplo, mesmo com a imersão chinesa, não estariam blindados de problemas nos seus balanços de pagamentos. O déficit comercial pode voltar a ser um problema de primeira ordem, principalmente nos países menores. Isso correria dada a dependência excessiva dos negócios com a China ou com os Estados Unidos. A consequência imediata seria por à prova as contas internacionais, lançando uma nova e importante rodada do FMI no cenário internacional. Bom seria se o problema ficasse restrito apenas ao comércio internacional. Existe um outro problema, tão perigoso para as economias emergentes quanto um quadro crônico de déficits comerciais recorrentes. Adivinhou? Não? Trata-se da taxa de juros dos Estados Unidos.

Para além do comércio internacional

Vamos tentar fugir de teorias da conspiração, mas, ao que tudo indica, Trump e sua equipe querem forjar uma nova estrutura internacional. E eles sabem quais as ferramentas devem ser usadas. O novo presidente do Banco Central dos Estados Unidos, Jerome Powell, já mostrou a que veio. Os indicadores de PMI mais recentes, que mostram uma desaceleração do crescimento dos Estados Unidos, não foram suficientes para demover o entendimento de que chegou a hora de subir a taxa básica de juros dos Estados Unidos. As apostas são de, pelo menos, mais três aumentos neste ano. E apesar de certo gradualismo na chamada “normalização” da política monetária estadunidense, esse processo ainda tem força para tirar boa parte dos investimentos domiciliados em outros países. Olhando para o intento de Trump, seja do ponto de vista comercial, seja pela política monetária mais contracionista, o mundo passa por um novo momento. Os países subdesenvolvidos ou emergentes, antes protagonistas do crescimento internacional, voltam ao papel de coadjuvantes. Novamente na história, quem cresce mais e dá as cartas do jogo são os Estados Unidos. — Dúvidas, críticas ou sugestões? Entre em contato conosco. Imagem: Pexels

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