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Psicologia e Economia: da necessidade do consumo à era da doença do consumismo

Colaborou para este texto Thainara de Lima, estudante de psicologia pela Universidade Nove de Julho, com ênfase em Saúde e abordagem Humanista.

 

plantacao_trigo_egito_antigoProvavelmente poucas pessoas questionariam a afirmação de que o consumo faz parte de nossas vidas. Pense no mais óbvio: no mínimo, para sobreviver, a gente precisa comer e beber, e isso, por si só, já é consumo. Mas, num passado distante, há uns 50 mil anos, os seres humanos aprenderam a plantar e a colher e isso mudou muita coisa.

Esse aprendizado permitiu que nossa espécie deixasse de ter um estilo de vida nômade (sem lugar fixo) para um estilo de vida sedentário (com lugar fixo). E permitiu que deixássemos de caçar (atividade muito comum para nossa espécie) e nos dedicássemos a outras atividades.

Ao longo do tempo, então, nossa vida passou a ser cada vez mais sedentária e começamos a descobrir mais jeitos de torna-la prática. Porém, essa aparente “praticidade” parece ser uma faca de dois gumes, pois apesar de hoje a vida ser muito mais fácil do que no passado, deixamos de lado várias atividades que nós praticávamos e eram essenciais para a nossa vida.

Não precisamos nem ir tão longe. Se pensarmos que há 50 anos, quando nossos avós eram jovens, eles realizavam muito mais atividades manuais e que exigiam que o corpo se movesse podemos perceber a diferença.

Mas tá parecendo papo de bêbado, né? Bem, a gente te explica. Nós deixamos de usar o nosso corpo para realizar atividades que sempre realizamos, como a caça, por exemplo, que permitiam que fizéssemos mais atividades físicas e, com essas atividades, o nosso corpo produzia a endorfina, uma substância natural produzida pelo cérebro em resposta à atividade física, com uma potente ação analgésica e a estimulação do bem estar, conforto, bom humor e alegria.

Estudos recentes apontam que a endorfina pode ter um efeito sobre áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, do humor, depressão e ansiedade. Assim, chegamos num ponto importante: o que a ansiedade e a depressão tem a ver com transtornos compulsórios e a relação do Consumo?

consumismoBem antes, vamos explicar rapidamente a diferença entre consumo e consumismo. O consumo é necessário para nossa sobrevivência; é a prática de adquirir bens e serviços que sejam realmente necessários. Já o consumismo, é a extrapolação do consumo, em outras palavras, significa adquirir uma grande quantidade de bens e serviços que não necessariamente sejam necessários.

A ansiedade e a depressão auxiliam e muito para que pessoas tenham transtornos compulsórios. Algumas pessoas descarregam esses sentimentos em adquirir e colecionar objetos sem sentido. Em alguns casos, a hora de parar e procurar ajuda ocorre quando há intervenção judicial, tendo até que impedir o acesso às contas bancárias pois, em muitos casos, não há mais espaço na casa da pessoa e, geralmente, se afundam em dívidas.

O transtorno compulsório, neste caso, se dá no comportamento, quando o indivíduo, por problemas multifatoriais, não consegue controlar esse vício da compra.

Infelizmente hoje acontecem muitos casos deste transtorno, por influência da era em que vivemos. Estamos acostumados a comprar com facilidade, auxiliando pessoas que já tenham pré-disposições a desencadearem essas compulsões.

Sob uma ótica econômica, pense no modelo econômico vigente (chamado, por alguns de “nova matriz econômica”). Desde 2007/2008 que o consumo no Brasil tem sido vastamente incentivado. Podemos ir até um pouco mais no passado e observar o modelo americano (ou the american way of life) que preconiza o consumo em detrimento da poupança. Incentiva o consumo exagerado, muito além das nossas necessidades.

consumo_conscienteCertamente, este consumo exagerado contribuiu para a crise financeira de 2008: as pessoas hipotecavam suas casas diversas vezes para financiar o consumo de bens duráveis; na impossibilidade de pagar e devendo para diversos bancos, as dívidas não foram honradas, levando a um efeito cascata e a quebradeira de bancos. No Brasil ainda não chegamos a esse ponto, mas o módulo de incentivo ao consumo já mostrou sinais de esgotamento.

O que pretendemos refletir é o seguinte: o consumo é necessário, mas o incentivo generalizado ao consumo, além de gerar problemas de ordem econômica, também contribui para problemas de ordem psicológica, no caso, dos transtornos compulsórios.

Para saber mais:

http://www.draanabeatriz.com.br/entrevistas/LivroMentesConsumistas_Somos_Impelidos_a_comprar.pdf (CONSUMISMO)

http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil/ (NOVA MATRIZ ECONÔMICA)

http://www.assessocor.com.br/noticias.aspx?__idNot=230 (ENDORFINA)

http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=1244559 (HIPOTECA)

 

 

Créditos das imagens (na ordem em que aparecem):

http://blog.sage.es/wp-content/uploads/2011/06/piensoluego.png

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/24830/hoje+na+historia+1999+-+populacao+mundial+atinge+a+marca+de+6+bilhoes+de+habitantes.shtml

http://gartic.uol.com.br/anon_42/desenho-livre/consumismo

http://www.akatu.org.br/Temas/Consumo-Consciente/Posts/Consumo-consciente-e-publicidade-Aliados-ou-inimigos

 

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